segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Petróleo e gás no mar Aral, sonho envolto num pesadelo

No início da década de 1960, o mar de Aral tinha uma superfície de cerca de 66,5 mil km2 (mais ou menos três vezes o tamanho de Sergipe, o menor estado do Brasil), sua profundidade média era de 16 metros e sua salinidade era 1/3 mais baixa que aquela registrada geralmente nos oceanos. Dois rios principais lançam suas águas no Aral: o Amu Daria, ao sul e o Sir Daria a nordeste. Esses rios, as duas principais fontes de recursos hídricos da região, têm suas nascentes nas altas montanhas que distam cerca de 1.000 km. da foz.

O ouro branco, como alguns denominam o algodão, foi introduzido na região durante o período czarista, mas seu cultivo passou a ser incentivado pelos lideres da União Soviética a partir dos anos 1960. Desde então, o Uzbequistão se transformou num dos maiores produtores de algodão do mundo. Esse sucesso econômico provocou e continua provocando danos enormes ao meio ambiente e às populações da região.

Mesmo após a independência do país em 1991, o governo uzbeque continuou detendo o monopólio das exportações, não deixou de incentivar a produção, permaneceu estabelecendo planos de colheita e a conseqüência de tudo isso é a falta de novas alternativas econômicas.

Em termos ambientais, o desastre pode ser avaliado por uma série de dados. Na década de 1980, o fluxo de água do rio Amu Daria era de apenas 10% daquele que era registrado vinte anos antes de iniciada a utilização intensiva da técnica de irrigação. Desde a segunda metade da década de 1990, nenhuma gota de água do Amu Daria tem chegado ao Aral. A interrupção do fluxo de água combinado com a forte evaporação e a pouca chuva fizeram diminuir a superfície do mar em cerca de 65%. Como conseqüência, seu volume decresceu em 80% e a profundidade média reduziu-se drasticamente.

O recuo da superfície do mar foi deixando milhares de hectares de áreas desérticas, recobertas por sais, alguns deles tóxicos, que os ventos dispersam por uma vasta região. A água residual do mar, assim como aquelas do curso inferior dos rios tiveram seu teor de sal aumentado assim como a carga de resíduos químicos e bacteriológicos fruto da utilização abusiva de adubos, pesticidas e outros produtos químicos.

À catástrofe ambiental, aliou-se a decadência econômica e social da região que já figurava como uma das mais pobres de toda União Soviética. Estima-se que pelo menos um milhão de pessoas já estão ou estarão nos próximos anos expostas a ameaças de poluição tóxica, resultantes de uma múltipla contaminação química, que afeta especialmente mulheres e crianças.

O mar de Aral, sempre foi o centro de um ecossistema alimentado pelas águas de seus dois principais cursos fluviais. Esse conjunto não mais existe como unidade. A prova disso é que atualmente a superfície líquida do Aral está dividida em três partes. A primeira, ao norte, no território do Cazaquistão, voltou a se encher de água graças a um dique artificial. As outras duas, no interior do território uzbeque, continuam a ver reduzida sua lâmina d’água.

No entanto, desde 2007, essas duas últimas áreas começaram a ser pesquisas por um consórcio de empresas ligadas à exploração petrolífera que procura por hidrocarbonetos no fundo das águas e nos terrenos salinizados adjacentes, já que o mar recuou quase 150 quilômetros desde sua antiga margem.

Embora as informações sobre o potencial de recursos em hidrocarbonetos do Aral ainda sejam escassas, pesquisas geofísicas realizadas até agora levam a prever um grande investimento que permitiria aumentar as perspectivas de exploração do gás até 2010.

A área que se pretende explorar abrange toda a superfície uzbeque do mar, isto é, cerca de 18 mil quilômetros quadrados (mais ou menos do tamanho de Sergipe), entre a parte oriental, a ocidental e a ilha de Vozrozhdenie que é, na verdade, uma península situada entre ambas. Na época soviética, a ilha de Vozrozhdenie foi uma importante área militar, onde se desenvolviam experiências com armas biológicas e que foi fechada em 1992.

As explorações geofísicas realizadas recentemente permitiram comprovar o constante “encolhimento” do Aral. Em um ano, a linha da costa retrocedeu 60 metros e a superfície desceu 30 centímetros. A parte ocidental do mar, com profundidade máxima de 40 metros, tem uma concentração de até 114 gramas de sal por litro. A parte oriental, com apenas dois metros de fundo, é praticamente uma salmoura.

Muitos habitantes da região apóiam a exploração dos hidrocarbonetos, e esperam que parte dos lucros advindos da exploração destine-se à recuperação do ecossistema e promovam a melhoria das condições de vida da população.

Todavia, a falta de um plano comum de cooperação entre os países da região (Tajiquistão, Quirguistão, Turcomenistão, além do Uzbequistão e Cazaquistão), cujos territórios são cortados pelos rios Amu Daria e Sir Daria tem gerado tensões hidroconflitivas entre eles, já que não se têm conseguido um acordo que estabeleça normas de um sistema de exploração racional e conjunta dos recursos hídricos existentes.

Como as geleiras no alto vale desses rios, situadas nas montanhas do Quirguistão e Tajiquistão vêm diminuindo estão se avolumando problemas entre os países situados na parte superior dos rios, interessados na produção de energia hidrelétrica, e os países situados à jusante, interessados na irrigação.

Por exemplo, no Uzbequistão crescem as suspeitas de que o vizinho Turcomenistão, localizado à montante, retenha mais água do Amu Daria do que necessita para alimentar projetos imobiliários luxuosos que incluem a criação de um lago artificial, reduzindo ainda mais o fluxo do rio.

Nesta e em várias outras áreas do mundo, a escassez do “ouro azul” torna-se cada vez mais o motivo de conflitos e tensões geopolíticas.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

A nação perdida

Mas as políticas étnicas bolivianas – conduzidas, em sentidos contrapostos, por Evo Morales e pela elite dirigente de Santa Cruz – não expressam teimosas realidades ancestrais: as identidades ameríndia, no Altiplano, e camba, no Oriente, são invenções recentes que funcionam como ferramentas no jogo de poder. Os plebiscitos que confirmaram o mandato do presidente, bem como os dos governadores oposicionistas do Oriente, atestam o triunfo dos dois lados na fabricação de identidades étnicas contrastantes. Para azar da Bolívia.
Não se deu a merecida atenção às fotografias das sessões da Assembléia Constituinte boliviana da qual emanou o texto constitucional que figura como pomo da discórdia. Os deputados da maioria exibiam vestimentas ameríndias tradicionais, algo que só não provoca estranheza a quem desconhece a Bolívia. Os ameríndios são 5 milhões, entre 9,1 milhões de bolivianos. Hoje, metade deles vive nas cidades. El Alto, a “cidade indígena” na periferia de La Paz, já tem 870 mil habitantes, que fazem da internet um nexo entre o mundo e as comunidades aymarás dos povoados do Altiplano. A língua espanhola, que foi o idioma apenas dos brancos e mestiços, atualmente é tão utilizada pelos índios quanto o quechua e o aymará. Os ameríndios bolivianos não usam mais vestimentas “indígenas”, exceto para vender produtos a turistas ou se são representantes de um projeto étnico na Assembléia Constituinte.
A “Bolívia ameríndia” é uma ruptura identitária. Os mineiros do estanho que deflagraram a Revolução Boliviana de 1952 tinham origem indígena, mas se definiam como trabalhadores e bolivianos, não como índios. O próprio Evo Morales alçou-se à notoriedade atuando como liderança sindical dos camponeses “cocaleros”. Foi só mais tarde, quando iniciou a jornada rumo à presidência, que ele se aliou aos arautos de um “renascimento aymará” e a ONGs multiculturalistas internacionais. Dessa aliança nasceu o projeto de uma “Bolívia plurinacional”, agora consagrado na letra de uma Constituição que acende a fagulha da guerra civil.
“Elite branca” – esse é o epíteto usado pelos governistas para fazer referência aos oposicionistas da “Meia-Lua” boliviana. Entretanto, nos departamentos orientais, elites e povo não se enxergam como brancos, mas como mestiços cambas. O movimento camba nasceu como reação à Revolução Boliviana dos mineiros de estanho, fabricando uma suposta identidade ancestral para o povo do Oriente. Segundo essa narrativa romântica, os cambas seriam os frutos da miscigenação entre brancos de origem espanhola e guaranis das terras baixas. O relicário de imagens dos guaranis “ancestrais” desempenha, em Santa Cruz, funções simbólicas paralelas às das “nações originárias” ameríndias em La Paz.
A ascenção de Evo Morales, portando a bandeira da restauração das “nações originárias”, forneceu combustível para a transformação do projeto identitário camba num movimento popular. Evo e os seus continuam a crismar os opositores como “minoria oligárquica”, mas sabem que não é bem assim. Eis o motivo pelo qual, diante das alternativas da repressão e da negociação, optaram pela segunda.
Paradoxalmente, a natureza trágica do impasse boliviano decorre da convergência de fundo entre La Paz e Santa Cruz, sintetizada na fórmula da “Bolívia plurinacional”. Essa fórmula significa que todos estão de acordo em renunciar à nação boliviana. De acordo com ela, a Bolívia não existe, a não ser na forma de uma entidade territorial: uma moldura geográfica habitada por nações distintas, em tudo apartadas. O consenso da renúncia molda os dissensos políticos capazes de ensangüentar o país.
Nos tempos da Revolução Boliviana, a riqueza da Bolívia estava incrustada no subsolo do Altiplano indígena, sob a forma de extensos veios de cassiterita. Hoje, a riqueza encontra-se nos depósitos de hidrocarbonetos do subsolo do Oriente camba. Na cúpula da Unasul, dias atrás, Evo Morales defendeu a “unidade” do país e acusou os opositores de tramarem a “divisão”. Na sua tradução da “Bolívia plurinacional”, as “nações” bolivianas têm direito à autonomia, mas a “unidade” repousa sobre o controle central dos recursos naturais e das rendas dos hidrocarbonetos. Os governadores da “Meia-Lua”, por sua vez, exigem que essas rendas sejam subordinadas ao princípio da descentralização e aos privilégios autonômicos departamentais.
A nação, nas palavras de Benedict Anderson, é uma “comunidade imaginada”. Os bolivianos imaginaram-se como integrantes de uma nação única mesmo nas turbulências incessantes de quase toda a segunda metade do século 20. Agora, em virtude das opções de suas elites políticas, tanto a do Altiplano quanto a do Oriente, imaginam-se como soldados de nações étnicas separadas pela fronteira intransponível do sangue. Na cúpula da Unasul, Hugo Chávez atribuiu a crise à “ingerência do império americano” e a “uma espécie de greve” do comando militar boliviano. Mas, apesar do que pensa o venezuelano, a crise é nacional e os chefes militares comandam um exército rachado de alto a baixo pela mesma linha de corte que divide a nação.
Manifestando seu respaldo ao governo de Evo Morales, o presidente equatoriano Rafael Correa prometeu que a América Latina não permitirá a conversão da Bolívia nos “Bálcãs”. Ninguém, exceto os bolivianos, tem o poder de realizar esse desejo. Mas não será fácil, pois o requisito é uma renúncia à renúncia. Depois de tudo, alguém ainda quer ser simplesmente boliviano?

Demétrio Magnoli

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

MANCHETE DO G1

Inflação anual no Zimbábue chega a 231.000.000%
Inflação no mês anterior havia sido de 11,2 milhões por cento.
Autoridades já tentaram diversas medidas para conter escalada

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Valeu.


O mais votado vereador do PT em Salvador.
Nesse eu acredito, esse vai ajudar a mudar Salvador.