domingo, 13 de julho de 2008

Alguns bons filmes sobre II Guerra.

A Cruz de Ferro (Cross of Iron). Direção de Sam Peckinpah, 1977, Inglaterra/Alemanha, 133 min. Companhia alemã na frente russa em 1943, comandada pelo sargento Steiner, é designada para as missões mais difíceis.

A Lista de Schindler (Schindler's List). Direção de Steven Spielberg, 1993, Estados Unidos da América, 195 min. Durante a II Guerra Mundial, industrial salva centenas de judeus poloneses do extermínio ao empregá-los em sua fábricas de panelas patrocinadas tanto por judeus, como depois, pela Gestapo.

Império do Sol (Empire of the Sun). Direção de Steven Spielberg, 1987, Estados Unidos da América, 154 min. Durante a ocupação da China por tropas japoneses, em 1941, menino inglês, rico e mimado, perde-se dos pais e sofre de fome e encarceramento.


O início do fim (Shadow Makers/ Fat Man and Little Boy). Direção de Roland Joffé, 1989, Estados Unidos da América, 126 min. A história do projeto Manhattan, de 1942 a 1945, através do qual os americanos fabricaram as duas bombas atômicas. Fatos e personagens verídicos num roteiro que se encerra antes das históricas explosões em Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945.

Stalingrado - A Batalha Final (Stalingrad). Direção de Joseph Vilsmaier, 1993, Alemanha, 140 min. Em 1942, as forças nazistas empreendem ofensiva em inóspito território soviético. Quatro rapazes com personalidades e expectativas diferentes participam da campanha que levaria a um dos mais sangrentos confrontos da Segunda Guerra Mundial.

Filhos da Guerra II Guerra – Holocausto/Ideologia nazista.

Pearl Harbour

Arquitetura da DestruiçãoDocumentário

sábado, 12 de julho de 2008

Os dez mais populosos e povoados

1 República Popular da China 1.321.852.000
2 Índia 1,129,866,673
3 Estados Unidos 301,139,947
3 Indonésia 234,693,997
5 Brasil 190.010.647
6 Paquistão 164,741,924
7 Bangladesh 150,448,339
8 Rússia 141,377,752
9 Nigéria 135,031,164
10 Japão 127,433,494


1 Macau 18,428
2 Monaco 16,754
3 Singapore 6,489
4 Hong Kong 6,407
5 Gibraltar 4,654
6 Vatican City 1,866
7 Bahrain 1,454
8 Malta 1,272
9 Bermuda (UK) 1,211
10 Maldives 1,105

Em 2008, metade da população mundial estará vivendo em áreas urbanas, diz relatório da ONU

Repórteres da Agência Brasil

São Paulo - Até o ano que vem, cerca de 3,3 bilhões de pessoas - ou metade da população mundial atual - estará vivendo em áreas urbanas. A estimativa é do Fundo de População das Nações Unidas (Unfpa), que lançou hoje (27), em São Paulo, o relatório Situação da População Mundial 2007: desencadeando o potencial do crescimento urbano.

Segundo o relatório, até 2030, esse número deverá chegar a quase 5 bilhões de pessoas, correspondendo a cerca de 60% da população mundial. O crescimento será mais intenso na África e na Ásia, que deverão duplicar sua população urbana e acrescentar mais de 1,7 bilhão de pessoas no mundo. Nos países desenvolvidos, a expectativa é de que o crescimento da população urbana esteja entre 870 milhões e 1,01 bilhão de pessoas.

“Nossa maior preocupação neste relatório são a África e a Ásia. Estima-se que, no espaço de uma geração, a população urbana na África e na Ásia dobrará. Entre 2000 e 2030, a população urbana da Ásia crescerá de 1,4 bilhão para 2,6 bilhões de pessoas; a da África, de quase 300 milhões para 740 milhões; e a da América Latina e Caribe, de quase 400 milhões para mais de 600 milhões”, disse a diretora executiva do Unfpa, Thoraya Obaid, em documento entregue hoje (27) à imprensa.

De acordo com o relatório, muitos desses novos habitantes urbanos serão pobres. “O crescimento urbano futuro será de pobres, mas a urbanização pode ajudar a reduzir a pobreza”, afirmou a representante do Unfpa no Brasil, Alanna Armitage, em entrevista à imprensa. Segundo Alanna, “essa onda de crescimento urbano é sem precedentes, mas, para aproveitar essa oportunidade, as cidades precisam se preparar agora para um crescimento que está por vir”.

O estudo diz que os formuladores de políticas devem começar a se preocupar com o problema do aumento da população pobre nas cidades agora, focando principalmente na questão do acesso à terra. “Oferecer aos pobres lotes com infra-estrutura básica ajudará a atender necessidades atuais e futuras. Com a posse segura, ruas de acesso, abastecimento de água, saneamento, energia e coleta de lixo, as pessoas construirão suas próprias casas. Um endereço pode ser o primeiro passo para sair da pobreza”, afirma, no documento, Thoraya Obaid.

Segundo o relatório, o crescimento urbano é cerca de 60% resultado do aumento vegetativo – a diferença entre nascimentos e mortes - e não da migração, ou seja, as cidades vêm crescendo de dentro para fora. Em resposta a esse fenômeno, o relatório propõe que os governos evitem a política de deter a migração para as cidades e passem a adotar políticas que ofereçam e ampliem os serviços sociais e o invistam nas mulheres.

“De nada adiantam ou adiantarão políticas públicas que desestimulem a vinda das pessoas para os centros urbanos, porque elas vão continuar existindo - o relatório é muito claro, ou que estimulem a saída das pessoas”, afirmou o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. “Nós devemos aqui criar condições para que as pessoas, em especial as mais pobres, continuem vivendo na cidade, mas vivendo melhor e com mais qualidade de vida”.

A representante auxiliar do Unfpa Taís de Freitas Santos ressaltou que o relatório não aponta soluções específicas para o Brasil, mas que o país poderia servir de modelo para outras nações. “No caso do Brasil, estamos num estágio de urbanização bastante avançado. Já temos mais de 80% da população brasileira vivendo em áreas urbanas. Uma coisa que se pode destacar é que talvez o Brasil possa servir de modelo para outros países que vão passar por esse estágio de urbanização”, afirmou.

População mundial superará 9,2 bilhões em 2050

da Folha Online

A população mundial chegará a mais de 9,2 bilhões de habitantes em 2050, segundo um relatório divulgado nesta terça-feira pela ONU (Organização das Nações Unidas). Os motivos do aumento da população são, segundo o estudo, maior longevidade e melhora de acesso ao tratamento do HIV e da Aids.

O estudo, elaborado pela divisão de população do Departamento de Assuntos Sociais e Econômicas da ONU (DESA), analisa as tendências demográficas no âmbito nacional, regional e mundial, com a idéia de servir como indicador para as pesquisas e estatísticas que são feitas no órgão.

De acordo com a pesquisa, o mundo terá um aumento de 2,5 bilhões de habitantes nos próximos 43 anos -- passando dos 6,7 bilhões que deverá alcançar em julho deste ano a 9,2 bilhões em 2050, segundo o informe.

O aumento equivale ao tamanho total da população do mundo no ano de 1950 e será absorvido, em sua maioria, pelos países em desenvolvimento.

Sozinhos, estes países devem passar de 5,4 bilhões de habitantes em 2007 para 7,9 bilhões de habitantes em 2050.

Queda

Em contraste com o crescimento nos países em desenvolvimento, a população das regiões desenvolvidas deve sofrer poucas alterações no período estudado, com uma média de 1,2 bilhão de habitantes.

As correntes migratórias não deverão afetar o crescimento da população mundial, segundo a ONU.

"A imigração não impulsionará o crescimento da população, mas a manterá constante", afirmou Hania Zlotnik, diretora do departamento de população da ONU.

"Esta não é a razão para que um país aceite imigrantes, a razão seria fazer com que os imigrantes sejam absorvidos pela demanda do mercado de trabalho", completou.

Atualmente, os países que recebem maior número de imigrantes por ano são os Estados Unidos (1,1 milhão), Canadá (200 mil), Alemanha (150 mil), Itália (139 mil), Reino Unido (130 mil), Espanha (123 mil) e Austrália (100 mil).

Os maiores países emigrantes são China, México, Índia, Filipinas, Paquistão e Indonésia, segundo a ONU.

Mudanças

O estudo encontrou ainda uma mudança na tendência de crescimento populacional relacionada com o compromisso dos governos de levar tratamento médico aos afetados pelo vírus HIV e pela Aids.

A previsão da ONU é que em 40 dos 62 países com maior número de infectados pelo HIV (a maioria na África subsaariana), 70% da população terá acesso ao tratamento com antiretrovirais.

Outras mudanças na tendência de crescimento apontadas pelo estudo são a queda da taxa de mortalidade e a maior longevidade das pessoas, aliada à redução da taxa de fertilidade dos países em desenvolvimento.

Envelhecimento

O resultado das mudanças é que as populações de cada vez mais países vão envelhecer mais rápido. Com isso, o número de pessoas com mais de 60 anos de idade passará dos 673 milhões atuais aos dois bilhões em 2050.

Nas regiões industrializadas, a população que supera os 60 anos de idade representa atualmente 20% da população, e a previsão é que essa porcentagem aumente para 33% em 2050.

Nos países desenvolvidos, a população de 60 anos ou mais deverá quase dobrar, passando dos 245 milhões em 2005 para 406 milhões em 2050.

A população de menos de 60 anos nesses países deverá diminuir, caindo de 971 milhões para 839 milhões.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Entrevista com José Arbex Jr - América Latina - Vale a pena

Utopia capitalista.


José Arbex Jr – O que está acontecendo na América Latina? Estamos vivendo um novo período revolucionário?
A América Latina chegou a um novo momento de impasse histórico. Há uma crise de proporções catastróficas, graças à recolonização, que se acentuou nos anos 90. Nos últimos quinze anos, sofremos processos de desnacionalização e desindustrialização, de aumento das desigualdades sociais. Esse processo, mais acentuado num país, menos em outros, fez com que todas as chagas históricas do nosso continente adquirissem proporções colossais. Hoje, a maioria de sua população vive na miséria biológica, mal consome todos os dias as duas mil calorias indispensáveis para a pessoa manter o mínimo de saúde física e mental. Apesar das taxas oficiais de escolaridade se elevarem, mais de metade da população não atribui sentindo à linguagem escrita. A concentração da propriedade, urbana ou rural, agrária ou industrial, móvel ou imóvel, adquire proporções muito mais elevadas do que no passado. Todos esses elementos se acumularam de tal maneira que se esgotou uma experiência histórica. A partir da virada do milênio, abriu-se uma situação revolucionária no conjunto do continente, com situações nacionais diferentes.
José Arbex – Não soa irônico que justamente um militar de carreira, ao chegar ao poder, na Venezuela, tenha assumido a defesa de um projeto socialista para a América Latina, por ele qualificado como o “socialismo do século 21”?
É o padrão da America Latina, não é um fenômeno novo. Chávez está associado ao fenômeno do surgimento de uma corrente militar nacionalista, cujo horizonte histórico encontra-se nos limites do capitalismo, mas que se radicaliza contra a exploração imperialista, contra as frações burguesas oligarquizadas. Prestes surgiu no Brasil, nos anos 20, liderando o tenentismo, como um movimento que expressava a radicalização das novas classes médias urbanas contra a burguesia agrária da República Velha. No México, o general Lázaro Cárdenas suspendeu o pagamento da dívida externa, depois da crise de 1929, e só voltou a pagar ao final da Segunda Guerra Mundial. É pouco lembrado que, nos 70, houve a experiência do general Velasco Alvarado, o chamado socialismo militar, no Peru, e a do general Juan Torres, na Bolívia. Então, não há uma surpresa histórica. Por outro lado, podemos falar da crise da esquerda venezuelana: se o nacionalismo militar radicalizado adquire um peso tão grande, isso diz muito do que aconteceu com a esquerda, e não só na Venezuela. Nos últimos 15 anos, houve um furacão, um tsunami político, que tornou a esquerda latino-americana irreconhecível. Para quem, da nossa geração, viu o que foi sandinismo na Nicarágua no final dos 70, a Frente Farabundo Marti em El Salvador, para quem se lembra o que era toda esquerda inspirada no exemplo da revolução cubana – como os montoneiros e os tupamaros - e até os grandes partidos comunistas que tinham peso de massa, como no Uruguai, hoje o quadro é desolador. Ex-montoneiros colaboram com Kirschner, na Argentina, e Daniel Ortega colabora abertamente com alguma das frações mais poderosas da burguesia nicaragüense, e por aí afora.
José Arbex – O que significa, para você, o “socialismo do século 21”?
É um projeto que mantém as relações de propriedade capitalista e uma economia de mercado com um papel regulador forte do Estado, cujo objetivo é garantir não só o funcionamento dos serviços públicos, mas um certo controle de preços sobre as mercadorias mais essenciais. É, fundamentalmente, uma utopia do mundo contemporâneo, um projeto de regulação social do capitalismo. Todas as tentativas históricas que foram feitas nesse caminho, até hoje, fracassaram. O capitalismo não é regulável, a ruptura é inevitável. O capital aceita negociações e faz concessões, apenas se houver perigo de revolução. Historicamente, nós podemos ver três experiências históricas em que o capital esteve disposto a fazer concessões: no final do século 19, depois do terror que foi para a sociedade burguesa européia a Comuna de Paris; à luz da experiência trágica dos anos 30 do século 20, e após a tragédia produzida pela Segunda Guerra, que abriu o caminho para novas revoluções, porque existia outubro de 1917 como exemplo. O capitalismo europeu, no quadro do Plano Marshall, fez concessões às classes trabalhadoras e negociou reformas. Em certa medida, o pacto social do pós-guerra criou uma regulação limitada, estabeleceram-se limites para exploração da força de trabalho, reconheceram-se direitos da classe trabalhadora. A geração posterior à guerra fez um grande acordo que explica porque o período da Guerra Fria foi, em grande medida, de certa estabilidade no centro do sistema. Mas, nas sociedades periféricas, esse pacto social nunca existiu. As concessões são sempre transitórias e efêmeras, e feitas em situações limite. Podemos dizer, por exemplo, que nos anos 50 foram feitas concessões ao trabalho no Brasil, com a garantia da estabilidade de emprego, com a consolidação das leis do trabalho (CLT), mas isso decorria, em grande medida, de um fato fundamental: quando acabou guerra, no Brasil, à parte Vargas, o líder popular com maior prestígio no país era Luís Carlos Prestes, eleito ao senado com 10 milhões de votos, líder de um partido comunista com influência de massas. É neste marco que nós entendemos as concessões. Depois disso, a Constituição de 1988 consagra, formalmente, a extensão de direitos que correspondem à intensidade da luta de classes nos anos 80. Uma das concessões mais extraordinárias foi a extensão do direito de aposentadoria para os trabalhadores rurais, provavelmente a política pública de distribuição de renda mais significativa da história do Brasil dos últimos 50 anos. Mas são medidas excepcionais e têm pouca durabilidade. Nenhuma sociedade periférica, nem na América Latina, nem na África e na Ásia chegou sequer perto do tipo de pacto social que se construiu na Europa depois da Segunda Guerra Mundial. As burguesias dos países periféricos não têm como fazer pactos semelhantes, dado o fato de que o lugar que elas ocupam no sistema internacional é muito mais fragilizado. Demograficamente, as classes médias acomodadas, que levam vidas confortáveis, têm um peso, nas nossas sociedades, incomparavelmente menor do que possuem até mesmo na Europa do Mediterrâneo, sem falar na Europa do norte, Estados Unidos e Japão. Ou seja, o colchão social das classes médias, que deu estabilidade aos regimes democráticos na Inglaterra, França ou Alemanha, esse colchão é muito reduzido. Por isso, aqui, a dominação burguesa passa por oscilações tão grandes.
José Arbex – Você acha possível que Chávez possa promover a ruptura com o imperialismo?
Na historia tudo é possível, nós temos o exemplo de Fidel: ele fez, foi além. O contexto internacional é decisivo. Quando Fidel, em 1961, depois de dois anos de hesitações, constitui um governo de ruptura com o capitalismo, em Cuba, existiam Moscou e Pequim. O quadro, hoje, é completamente distinto e deste ponto de vista muito mais adverso para a Venezuela. Isso limita a margem de radicalização de que seria capaz essa corrente militar nacionalista. Por outro lado, a restauração capitalista dos últimos 15 anos, no Leste Europeu, na União Soviética e na China tem um impacto tremendo, que não pode ser minimizado.
José Arbex – Na Bolívia, aconteceu uma coisa que parece ser nova, o protagonismo dos povos originários, que também se manifestam com força no México e no Equador. O que significa isso?
Significa o despertar de grandes massas indígenas camponesas que viviam como sub-cidadãos dentro de suas próprias nações. O campesinato latino-americano foi a vanguarda, lembremos, da primeira grande revolução do século 20, a Revolução Mexicana. Hoje, o seu novo protagonismo decorre das seqüelas do ajuste neoliberal. Os planos de estabilização da moeda, sobretudo, destruíram as condições mais elementares de vida das comunidades camponesas. E por outro lado, a crise econômica crônica criou na America Latina um fenômeno novo que é o movimento da migração em massa para os países centrais: 25 milhões de latino-americanos foram para o Japão, Europa Central e, majoritariamente, para os Estados Unidos. Uma parte da juventude vai embora, foge de seu país, isso deixa seqüelas imensas nessa sociedade: pauperismo, desemprego crônico, miséria biológica. As comunidades camponesas atravessaram o século 20 na pobreza, mas não podemos falar em fome. Já nos anos 90, vemos fenômenos de desnutrição, queda da acessibilidade à escola, regressão em muitos indicadores sociais chaves, queda nos padrões médios de vida, e fome. No Brasil, algo em torno de 100 mil bolivianos trabalham em condições de semi escravidão, e ainda assim o movimento de imigração não se interrompe. Por que? Por causa da mercantilização da terra, de todos os produtos fundamentais, porque não há condições mínimas para eles poderem responder às suas necessidades. Então, há um protagonismo que tem uma dinâmica revolucionária.
José Arbex – Por outro lado, aconteceu uma coisa muito interessante nos últimos 10 anos: o movimento de massas derruba não mais ditadores, mas sim presidentes eleitos, como no Equador, na Bolívia, na Argentina. O que isso indica, na sua opinião?
É um fato histórico novo. Nunca antes dessa experiência tínhamos revoluções democráticas contra o regime democrático liberal. As situações revolucionárias abriam-se, essencialmente, em situações terminais, contra regimes de exceção, ditatoriais. Agora, o tabu marxista de que insurreições não triunfavam contra regimes legitimamente sufragados nas urnas desabou. Ao longo dos últimos 20, 25 anos, tivemos, na América Latina, regimes democráticos que herdaram das antigas ditaduras militares economias semi-coloniais, com uma inserção mais frágil no mercado mundial, e Estados com um peso mais debilitado no sistema internacional. A estagnação produziu o agravamento de todas as seqüelas, todas as doenças sociais: delinqüência,marginalização em grande escala, o avanço do crime organizado, a lumpenização das sociedades, a migração em massa, a decadência da educação pública, das artes, da cultura. Mas as sociedades não podem mergulhar no abismo indefinidamente. Essa nova vaga de revoluções democráticas é uma reação das sociedades. Graças à nova vaga, Tabaré, Lula, Ortega, Kirchner não podem mais fazer o que Menem fez na Argentina, o que Fernando Henrique e Fujimori fizeram no Brasil ou no Peru. Mas o problema de fundo permanece em aberto: os imigrantes não voltaram, o desemprego, mesmo quando diminuiu, manteve-se num patamar muito mais elevado do que era o quadro anterior. Haverá uma segunda onda, provavelmente ainda mais radicalizada, de mobilizações da América Latina.
José Arbex – Muita gente fica intrigada quando compara a situação do Brasil com a do resto da América Latina. Aparentemente, o Brasil permanece “deitado em berço esplêndido”. Como é que você explica?
A América Latina já caminha na direção de uma segunda vaga revolucionária e nós não vivemos ainda a primeira. O problema de fundo é que o proletariado brasileiro não voltou cumprir o papel que ele teve em 1978 ou1984. Em algum momento, entre 1993 e 1995, ocorreu no Brasil uma inversão global de forças em relação ao período que se abriu entre 1978 e 1989.
José Arbex – Mas, porque a reação demora tanto a acontecer no Brasil, quando se compara com a América Latina?
Em primeiro lugar, porque o Brasil, por ser o país mais poderoso da América do Sul, sofreu menos com a desnacionalização do que a Argentina; a desindustrialização foi menor aqui do que no Chile. O imperialismo tem uma política que privilegia o Brasil, a atitude de Washington em relação à Brasília não é a mesma que em relação à Buenos Aires, ou a Lima, ou a Santiago. O Brasil é a jóia da coroa, é o país decisivo do continente. Depois do que foi a turbulência dos anos 80, os norte-americanos têm muito cuidado em apertar o garrote da burguesia brasileira em excesso. Há outros problemas de fundo: o Brasil cumpre o papel de sub metrópole na América Latina. As grandes companhias multinacionais são estabelecidas com sedes no Brasil porque elas operam para a escala do mercado brasileiro, justificando toda uma redistribuição para o conjunto do continente.
José Arbex – Estatísticas recentes da ONU que dizem que o Brasil entrou para o clube dos países mais desenvolvidos. Isso não é contraditório com o quadro desolador de decadência que você descreve?
A dinâmica da sociedade brasileira não é ascendente. Como explicar que entre três e cinco milhões de brasileiros (ninguém sabe exatamente quantos são ) fugiram do Brasil nos últimos 10 anos, para viver em condições sub humanas, em subúrbios dos Estados Unidos, de Portugal, de Londres, do Japão? Essas milhões de pessoas estão entre os mais capazes da juventude, e não por acaso remetem 10 bilhões de reais para o Brasil. As massas tentam reagir contra a decadência. Primeiro, procuram combinações do voto com soluções negociadas: são os governos de centro-esquerda, uns com uma retórica mais radical, como em La Paz e em Caracas, outros com uma retórica muita mais moderada como em Brasília, Buenos Aires e Montevidéu, mas com um projeto que, essencialmente, é o mesmo, de regulação do capitalismo periférico sem romper com o mercado mundial. Não vejo tanta diferença de projeto entre Kirchner, Lula e Evo Morales com suas políticas compensatórias. A rigor, para ser justo, o alcance dessas políticas na Argentina foi mais gigantesco. No Brasil, foram beneficiadas 11 milhões de famílias, o que corresponde a algo como 15% da população economicamente ativa (PEA). Na Argentina, foram 25% da PEA. O projeto que está sendo implantado na Venezuela não é muito diferente. No fundamental, estamos discutindo é o seguinte: o projeto de regular o capitalismo e atender à satisfação das massas com políticas sociais compensatórias têm fôlego histórico ou isso é uma utopia?
José Arbex – Supondo-se que haja mesmo uma onda revolucionária no Brasil, aqui não existem organizações de esquerda capazes de estruturar e organizar movimentos de massas na via da ruptura com o capitalismo. Tirando a conclusão lógica do que você diz, o que vamos presenciar? Vagas revolucionárias e subseqüentes derrotas?
Há uma acefalia, uma fragilidade da representação popular, pela assimetria - para usar um termo que os sociólogos gostam -, da representação entre as classes. A burguesia dos nossos países sabe que para dominar, precisa controlar a representação das outras classes, então ela se representa a si própria e coopta, atrai as organizações que surgem das lutas populares. Mas nem sempre com completo sucesso, porque uma parte das lideranças não pode ser comparada nem corrompida. O material humano que surge e se desenvolve no combate dos trabalhadores latino-americanos, dos povos originários, dos camponeses, da juventude é extraordinário. Surgem nas lutas às dezenas, aos milhares, às centenas de milhares. Há uma enorme energia, são países com um peso da juventude enorme, surgem muitos líderes. Então, deste ponto de vista, há elementos para ser otimista. Rapidamente, surgem novas organizações. Mas há uma outra dimensão do problema que é trágica, porque surgem no calor do combate milhares de lutadores que vêm com vigor dos que estão dispostos a lutar pela primeira vez, mas sem a experiência. Uma direção jovem tende a ter muita audácia, mas vai cometer erros, porque não se apóia na experiência acumulada. Esse é o grande desafio dos marxistas latino-americanos, o de estar presentes na primeira linha, ao lado dos novos lutadores, para que o fio de continuidade da história não se perca.
José Arbex – O PT e a CUT continuam sendo organizações de massa. Numa eventual retomada das grandes lutas, que papel eles vão jogar?
A CUT hoje é ainda uma grande central, mas dificilmente agrega mais do que trezentos sindicatos que se dispõem a pagar regularmente suas cotas sindicais. Há uma crise financeira tremenda. Se nós formos comparar quantos sindicatos cotizam da CONLUTAS e quantos cotizam da CUT, nós vamos ter uma proporção melhor de qual o piso efetivo de cada uma das centrais. A CUT já se esvaziou em grande medida, ela é hoje um braço do Ministério do Trabalho, então a sua força efetiva como aparelho é muito pequena. Qual é a capacidade que a CUT tem de fazer uma mobilização nacional em Brasília? É maior ou menor que a CONLUTAS? Eu digo que é menor.
José Arbex – Mas a CUT não está interessada em promover mobilizações...
Mas ela tem que fazer, digamos, uma mobilização de faz de conta, porque acordada com o governo. No fundo, uma mobilização para apoiar aquilo que já tinha sido negociado com o governo. Já no caso do PT, curiosamente, o seu peso eleitoral está muito mais concentrado nos setores mais atrasados do que no momento em que o PT cumpriu um papel progressivo, nos anos oitenta. Acho que hoje o PT tem um compromisso de fundo com a estabilidade do regime. Há algo de fundo que mudou, algo muito simples, mas muito profundo. O PT nos anos oitenta, até a instalação do Colégio Eleitoral, era oposição ao governo e ao regime. O PT era a oposição ao governo Figueiredo e era oposição ao regime, que era a ditadura. A partir da eleição do Colégio Eleitoral, lentamente o PT foi se deslocando, para ser oposição a Sarney, mas defensor do regime. Pela primeira vez, o PT cumpriu um papel objetivo na defesa do regime, quando ele apoiou a posse de Itamar Franco. Durante os oito anos de Fernando Henrique, o PT foi a oposição ao governo, mas foi um partido do regime. Isso significa que o PT deve lealdade às instituições, reconhece legitimidade no Supremo Tribunal Federal, a legitimidade do Estado Maior das Forças Armadas, dos tratados internacionais que o Brasil herdou, muitos da época da ditadura. O PT está integrado ao regime. Um partido da ordem não apóia mobilizações sociais para desestabilizar a ordem.
José Arbex Jr: Mas essas políticas encontram apoio entre as massas...
Em nenhuma sociedade as classes medem forças frontalmente antes de terem esgotado todas as possibilidades de resolver o conflito através de negociações. Não vejo porque o Brasil e a América do Sul seriam diferentes. Ao longo do século vinte, você verá que a busca da saída revolucionária só se impôs depois que a expectativa da mudança através de reforma tinha sido ensaiada uma, duas, três, quatro vezes, demonstrado para milhões de pessoas que não é possível mudar a sociedade sem luta.