segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Uma linha no mapa.

Muito antes da existência da URSS, a Rússia traçou uma fronteira de segurança que situa-se além de sua fronteira política. Ao longo de séculos, forças armadas russas estabeleceram-se no “talude” estratégico delimitado pelas duas fronteiras. Na Europa, a construção do “talude” deve-se a Pedro I, entre 1689 e 1725, com a conquista de Kiev e do vale do Dnieper, na Ucrânia e Belarus, que foi o berço do Estado russo original. Na segunda metade do século 18, Catarina II alargou-o, conquistando a Criméia turca e a Lituânia polonesa. No início do século seguinte seriam implantados os “taludes” do Cáucaso e da Ásia Central muçulmana.
A aventura imperial não teve um sentido puramente territorial. Desde a queda de Constantinopla, a Rússia definiu-se como a “Terceira Roma” e engajou-se no “destino manifesto” de expansão da civilização cristã. O parêntesis soviético não apagou a velha chama. Sob os auspícios da TV estatal russa, Tikhon Shevkunov, superior do mosteiro de Sretensky e confessor de Putin, produziu o documentário “A destruição do império: uma lição bizantina”, que a pretexto de investigar a destruição de Bizâncio delineia um programa de restauração da Grande Rússia. Exibido com grande sucesso de público, o filme encontra na cooperação com o Ocidente as fontes da doença que envenenou a “Segunda Roma” e aponta no saque das riquezas de Bizâncio e na usura dos judeus as origens do capitalismo ocidental. A mensagem evidente da contrafação histórica de Shevkunov é que a Rússia deve resistir à ofensiva do Ocidente, fechar-se às influências corruptoras e proteger o patrimônio territorial legado por Pedro e Catarina.
Mesmo nos tempos de Boris Yeltsin, os russos não esconderam a regra do jogo. Na hora da implosão da URSS, Moscou traçou a sua linha vermelha no mapa, circundando a Comunidade de Estados Independentes (CEI). A CEI jamais existiu para qualquer finalidade que não fosse a de evidenciar a presença perene de uma fronteira estratégica. Os russos irritaram-se com a decisão de Bill Clinton de incorporar à OTAN os países do antigo bloco soviético e os Estados Bálticos, gemeram diante dos sucessivos cortes de tesoura que amputaram a Sérvia e clamam aos céus contra a instalação de mísseis anti-mísseis americanos na Polônia e República Tcheca. Mas nada disso equivale a avançar sobre o “Exterior Próximo”, que é como o Kremlin nomeia o “talude” de repúblicas da CEI. Bush devia saber – ou alguém precisava ter lhe contado.
Putin e os seus não acreditam em levantes democráticos. Em 2003, na Geórgia, a “revolução das rosas” transferiu o poder para o pró-ocidental Mikheil Saakashvili. No ano seguinte, a “revolução laranja”, que sacudiu a Ucrânia e gerou o governo também pró-ocidental de Viktor Yuschenko, foi interpretada em Moscou como uma conspiração americana contra o berço ancestral da Rússia. Inebriados pelos sucessos efêmeros no Iraque, os neoconservadores imaginaram que se abriam os portais para um novo avanço tentacular da OTAN. Agora, eles reagem com uma cacofonia impotente de dor e fúria.
Quando Saakashvili moveu suas tropas para dentro da região separatista da Ossétia do Sul, ele jogava no tabuleiro da geopolítica acreditando que tinha o respaldo de Washington. A contra-ofensiva da Rússia, que destroçou as forças georgianas e brutalmente atingiu cidades e civis, obedeceu ao mesmo paradigma da realpolitik. Depois de tudo feito, os atores transferiram-se para o tabuleiro dos princípios e encenaram uma farsa que ainda prossegue. Saakashvili invocou a soberania nacional. Bush e John McCain ecoaram suas palavras, subitamente esquecidos de que o mesmo argumento emanou de Slobodan Milosevic quando se tratava de Kosovo. Putin, de seu lado, invocou o direito de autonomia dos ossétios do sul, muitos dos quais ganharam recentemente passaportes russos, e ouviu do ministro do exterior sueco que uma justificativa similar foi utilizada um dia por Hitler.
A simetria é digna de nota. Nos Bálcãs, Washington ergueu a velha divisa de Woodrow Wilson e sustentou a separação da província sérvia de Kosovo sobre a base do “direito das nacionalidades”. No Cáucaso, por coerência, precisaria defender o direito dos ossétios do sul à independência, mas preferiu proclamar os direitos soberanos da Geórgia. Moscou, que nunca admitiu o princípio wilsoniano e denunciou a espoliação da soberania sérvia, descobriu agora um direito dos povos superior à vontade dos Estados.
Apesar de tudo, a simetria é incompleta. Sob o patrocínio dos EUA e da União Européia, Kosovo foi proclamado um país soberano. Moscou não pretende promover a independência da Ossétia do Sul ou a sua fusão com a república russa da Ossétia do Norte. As duas alternativas abririam um perigoso precedente wilsoniano no Cáucaso setentrional russo, onde se situa a Chechênia, e sobretudo eliminariam um motivo crucial para a presença de tropas russas na Geórgia. No fim das contas, Moscou acredita mesmo é na soberania do Estado – ou, para ser exato, na exclusiva soberania da Grande Rússia no seu “Exterior Próximo”.
O jogo já pode recomeçar. Todos os jogadores agora conhecem as regras.

Demétrio Magnoli

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Como se batiza as tempestades tropicais e os furacões.

Gustav, Hanna, Ike... a denominação destes fenômenos climáticos segue regras bem precisas.
Há seis listas anuais de nomes para o Atlântico Norte, estabelecidas pelo Central Nacional de Furacões (NHC) de Miami (Flórida). Cada uma tem 21 nomes ingleses, espanhóis e franceses, em referências aos países do Atlântico.
A primeira tempestade tropical da estação tem um nome que começa com "A", e a oitava com "H", como Hanna, atualmente próxima das Bahamas e que é seguido por "Ike".
As letras Q, U, X, Y e Z são excluídas porque não há nomes correspondentes o bastante para elas.
A primeira tempestade tropical a ser batizada foi na Austrália, no início do século XX, por um meteorologista que usou o nome de um político de que não gostava para identificá-la. Mas ainda não havia regra alguma para isso.
Durante a II Guerra Mundial, os militares americanos começaram a batizar regularmente as tempestades no momento de sua aparição nas zonas tropicais. Eles davam nomes de suas esposas ou de suas namoradas.
Em 1950, o Escritório de meteorologia americano decidiu dar sistematicamente nomes aos ciclones, e durante dois anos eles foram batizados segundo o alfabeto.
A partir de 1953, começaram a ser utilizados os nomes de mulheres, mas as associações feministas dos EUA se queixaram, considerando o uso destes nomes associados a palavras pejorativas como "devastador" prejudicial à imagem da mulher. Foi assim que em 1979 começou-se a alternar os nomes femininos e masculinos.
As mesmas listas são reutilizadas a cada seis anos, com uma particularidade: os nomes dos furacões que deixaram inúmeras vítimas não são reutilizados. Sendo assim, não há mais Katrina, Rita ou Mitch (que acabou virando Matthew na nova lista).
No caso de um ano recorde, com um número de tempestades tropicais maior que 21, como em 2005, as tempestades seguintes usam o alfabeto grego, começando por Alpha.
Para os meteorologistas, alguns nomes continuam nas memórias pelas destruições que causam em sua trajetória ou por sua força: Flora (1963), Gilbert (1988), Hugo (1989), Andrew (1992)...