sábado, 24 de março de 2012

Putim de novo!

Na prática, Vladimir Putin nunca deixou o comando da Rússia. Ele foi presidente entre 2000 e 2008, período em que o crescimento econômico sustentou sua popularidade. Um veto constitucional, contudo, impediu que concorresse a um terceiro mandato. Ele então apoiou Dmitri Medvedev na sucessão presidencial e foi indicado para o cargo de primeiro-ministro. O objetivo era de, vencida a disputa presidencial deste ano, apenas “trocar de cadeiras” com Medvedev, que assumirá o posto do atual premiê.
E, como uma reforma na Constituição alterou o mandato presidencial de quatro para seis anos e Putin tem ainda o direito de se candidatar novamente em 2018, ele pode, teoricamente, permanecer no cargo por mais 12 anos (até 2024).
Os rumos políticos da Rússia, entretanto, podem mudar nos próximos anos. Em dezembro, após denúncias de fraudes nas eleições parlamentares, 90 mil russos foram às ruas de Moscou e outras cidades para protestar, enfrentando o inverno com temperaturas abaixo de zero. Na ocasião, o partido Rússia Unida, de Putin, saiu vitorioso, conquistando 238 das 450 cadeiras do parlamento.
Foram as maiores manifestações vistas no país desde o fim do regime comunista em 1991Elas foram promovidas principalmente pela classe média – que cresceu na última década e hoje corresponde a 25% da população e 40% da força produtiva do país –, insatisfeita com os casos de corrupção na política. Putin reagiu acusando os Estados Unidos de incentivarem as agitações populares na Rússia.
Apesar da repercussão negativa, elegeu-se com 64% dos votos, amparado pela popularidade do governo e pela desarticulação da oposição. A vitória com mais de 50% dos votos impediu que a disputa fosse para o segundo turno. O líder do Partido Comunista, Gennady Zyuganov, foi o segundo candidato mais votado, com 17,19%.
Os resultados oficiais foram mais uma vez contestados por observadores internacionais e pela ONG Golos, que acusou irregularidades e uma vitória mais apertada do premiê russo, pouco mais de 50% dos votos. Há denúncias de que eleitores teriam depositado mais de uma cédula nas urnas.
ECONOMIA:
Desde o século passado a comunidade internacional fica atenta aos acontecimentos políticos na ex-URSS. Afinal, a Rússia é o maior país do mundo, uma potência nuclear e a sexta economia do planeta.
Durante 74 anos, foi uma superpotência militar e modelo de governo comunista, até que reformas políticas e econômicas levaram ao colapso os regimes comunistas do Leste Europeu que “orbitavam” o Estado soviético.
Nos anos 1990 o país enfrentou uma crise econômica que causou a contração do PIB em 40%. A partir de 1998, a alta do preço do petróleo impulsionou um período de crescimento econômico durante uma década. Nessa época, o PIB registrou aumento de 185%, uma média anual de 7,3%. O país foi então incluído no Brics, grupo das economias em desenvolvimento, que inclui Brasil, Índia, China e África do Sul.
Foi a prosperidade financeira que produziu os altos índices de aprovação de Putin e o levaram a se reeleger e empossar um sucessor. Por outro lado, Putin é um dos líderes mais polêmicos do mundo. Ex-oficial do serviço secreto russo, a KGB, ele é acusado de perseguir inimigos políticos, censurar a imprensa e fraudar processos eleitorais para se manter no poder.
Da mesma forma que o presidente venezuelano Hugo Chávez e os ditadores do Oriente Médio, Putin conta com as reservas de petróleo russas para “blindar” o governo das crescentes críticas, internas e externas. Mas a atual crise econômica no continente europeu, que derrubou as exportações, e a pressão popular podem agora abreviar o fim da “era Putin”.