quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Artigo do Clube Mundo

Volver a los 17?

Karl Marx alertou sobre o fato de que o capitalismo desenvolveria ao máximo as forças produtivas, até o momento em que o modo de produção, baseado na propriedade privada e na busca incessante de lucro, se tornaria um impedimento ao seu livre desenvolvimento; se o capitalismo não fosse substituído por outro sistema, mais desenvolvido e mais humano – isto é, o socialismo -, as forças produtivas seriam transformadas em forças destrutivas. Vamos entender isso um pouco melhor.Em linhas bem gerais e esquemáticas: as forças produtivas são a própria natureza, a ciência e a técnica (ct) e o próprio ser humano. Ao longo da história, o ser humano, na luta para domesticar a natureza, organizou-se das mais distintas formas, assim desenvolvendo a ct. A maneira pela qual as sociedades se organizam (modo de produção) sempre corresponde a um determinado grau de desenvolvimento das forças produtivas. Por exemplo: o capitalismo, na era industrial, permitiu o tremendo desenvolvimento da ct, até o ponto que conhecemos hoje; tal desenvolvimento não poderia ter acontecido, digamos, no feudalismo, pois a condição para o desenvolvimento da indústria foi a existência simultânea do burguês empreendedor e do trabalhador assalariado, isto é, o modo de produção capitalista.A coisa toda funciona bem até o ponto em que o crescimento das forças produtivas é emperrado pelo modo de produção. Aqui, surge uma questão vital: o capitalismo é capaz de desenvolver ao infinito a ciência e a técnica. Daí, muitos concluem que o socialismo não está colocado na ordem do dia, segundo o raciocínio de Marx, para quem só pode haver a revolução no caso de uma contradição entre a evolução das forças produtivas e o modo de produção. Mas esse argumento é vulgar. Para o marxismo, não há uma equiparação, uma equivalência, um sinal de igualdade entre as forças produtivas. O ser humano é o centro da preocupação de Karl Marx.Isso significa que o desenvolvimento da ct só tem significado se ele servir para aumentar o bem-estar do ser humano, seu acesso às riquezas culturais e naturais, às condições dignas de vida. Não é, em hipótese alguma, aquilo que o capitalismo produz.É verdade que o ser humano criou uma estação espacial, lançou robôs interplanetários, domina vastas áreas da biologia, é capaz de obras monumentais etc. etc. E daí? Vamos nos deter, por exemplo, na questão alimentar, a mais básica e sagrada para todo ser humano.Em 1950, quando o planeta era habitado por 2,5 bilhões de pessoas, a humanidade em seu conjunto era capaz de produzir uma quantidade média de 2.500 calorias por dia por habitante. Hoje, quando somos 6 bilhões, somos capazes de produzir 2.750 calorias por dia por habitante. Isto é, mesmo com o acelerado crescimento, produzimos mais alimentos do que o necessário, graças às novas tecnologias. Mas aumenta o número de famintos no mundo. As resoluções da ONU já não falam em “erradicar a fome”, como postulavam até o início dos anos 80, mas falam em alimentar “metade dos famintos”. Como eles são calculados na casa do bilhão, então a ONU condena a morrer de fome pelo menos 500 milhões de seres humanos!É a isso que Marx se referia, quando falava em crescimento das forças destrutivas. O mesmo raciocínio pode ser estendido a todos os outros setores vitais, como medicina e saúde, educação, lazer etc. Os benefícios do capitalismo só são estendidos aos que têm dinheiro para pagar por eles. E mesmo assim, quando o sistema é tomado em seu conjunto, vemos que a competição desenfreada entre os vários grupos capitalistas conduz o planeta ao desastre global.É esse o quadro que indica a total, urgente, vital atualizada da revolução. Se a experiência soviética sucumbiu, isso não significa o fim da luta pelo socialismo, nem prova o suposto fracasso histórico do marxismo. Prova, apenas, que o socialismo é incompatível com a burocratização da sociedade, com o autoritarismo; em uma palavra, com o stalinismo. Ao contrário, mais do que nunca vigora a alternativa posta por Rosa Luxemburgo e por todos os marxistas que não se deixam seduzir pelo canto vulgar das possibilidades impossíveis do capitalismo: socialismo ou barbárie!

José Arbex Jr.

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