terça-feira, 8 de junho de 2010

Os muçulmanos no Extremo Oriente e Europa

Cerca de 70% dos muçulmanos do mundo estão presentes no continente asiático. Contudo, a região da Ásia com menor expressão de pessoas que seguem o islamismo localiza-se no Extremo Oriente, mais especificamente na porção oeste-noroeste da China.
Nessa porção do território chinês está a Região Autônoma do Xinjiang-Uigur, área com mais de 1,6 milhões de km2 onde convergem as fronteiras internacionais da China com a Mongólia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Paquistão.Essa região é em grande parte desértica e semi-árida, emoldurada por altos planaltos (Tibete, por exemplo) e cadeias montanhosas como as do Altai e Tian Shan. Em seu interior encontram-se também grandes depressões como a de Dzungária e a do rio Tarim.
Com cerca de 20 milhões de habitantes, o Xinjiang-Uigur tem na etnia uigur aquela de maior expressão demográfica perfazendo um pouco menos de 50% do contingente regional. Com uma população numericamente semelhante estão os chineses han, a etnia majoritária em toda a China. O restante da população, um pouco menos de 10%, é composta por povos centro-asiáticos vizinhos como cazaques, quirguizes e tajiques.Os uigures são muçulmanos sunitas de cultura turca, presentes nessa região desde o século VIII e que se converteram ao islamismo oito séculos depois.
Por conta de sua localização estratégica, uma espécie de ponte entre as estepes russas e as áreas densamente povoadas da China litorânea do Pacífico, o Xinjiang (outrora denominado Turquestão chinês) ao longo da história foi objeto de domínio e interferência de povos como mongóis, russos e chineses han. Mais recentemente, no início da década de 1950, logo após o triunfo da Revolução Chinesa de 1949, o governo de Pequim passou a desenvolver políticas de promoção de desenvolvimento econômico e de efetiva ocupação territorial da região.
Deu-se início à exploração das jazidas minerais, especialmente petróleo, implantaram-se algumas indústrias bélicas e uma das áreas da região, nas imediações do lago Lop Nor, foi palco dos testes atômicos subterrâneos chineses, há alguns anos interrompidos. Por outro lado, o governo central estimulou o aumento sistemático de populações han, que tiveram sua participação multiplicada por quatro nos últimos 50 anos. Os han estão presentes especialmente nas cidades como em Urumqi, a capital, e centros industriais da região. Essa contínua e persistente “invasão” dos han tem aguçado, nos últimos tempos, o antagonismo com os uigures, muitos dos quais não têm se mostrado insensíveis às idéias de movimentos muçulmanos extremistas. Na última década ocorreram alguns atentados na região.
O Xinjiang-Uigur teve aumentado ainda mais sua importância estratégica e geoeconômica em função não som pela recente descoberta de jazidas de hidrocarbonetos, mas também pelo fato de que por ali deverá passar um grande oleoduto que conectará as jazidas do Cazaquistão e da Sibéria Ocidental às regiões costeiras chinesas. Foi nesse contexto que no final da década de 1990, China, Rússia, Cazaquistão, Quirguistão, Tajiquistão e Uzbequistão formaram o Grupo de Xangai, cujo objetivo consiste em lutar contra o tráfico ilícito, promover o desenvolvimento econômico da área, mas principalmente lutar contra o terrorismo separatista e o extremismo religioso.
Povos turcófonos, isto é, muçulmanos de cultura turca como os uigures não são os únicos seguidores do islamismo na China. Há pelo menos 10 milhões de muçulmanos chineses da etnia han presentes em inúmeras províncias do país. Esses muçulmanos chineses, denominados hui, são especialmente numerosos na província de Ningxia.
Já os muçulmanos presentes no continente europeu podem ser divididos em dois grandes grupos. O primeiro deles é o dos muçulmanos que passaram a se dirigir para a Europa a partir da segunda metade do século XX. Essa migração teve como causas principais o processo de descolonização afro-asiática e a necessidade de mão-de-obra não especializada por parte dos europeus. É claro que as precárias condições de vida desses novos países foi também a causa importante desses fluxos migratórios intercontinentais.
Os países europeus que mais receberam esses imigrantes foram a França, a Grã Bretanha e a Alemanha. No caso dos dois primeiros, os imigrantes que para lá se dirigiram eram provenientes, sobretudo das antigas colônias francesas e britânicas. Assim, para a França a área de origem dos imigrantes era principalmente a região do Magreb africano, especialmente do Marrocos e Argélia. No caso da Grã Bretanha, grande parte dos indivíduos era originária do subcontinente indiano, isto é, Paquistão e Índia.
Já a Alemanha, o país que mais recebeu imigrantes na Europa, a questão de antigas colônias não se colocava, pois este país, ainda quando era o Império Alemão, perdeu todas as suas possessões coloniais ao fim da Primeira Guerra Mundial. Em solo germânico, parte considerável dos muçulmanos tinha como área de origem a Turquia.
O segundo grande grupo de muçulmanos presentes na Europa corresponde àqueles que estão presentes no continente há vários séculos. Eles estão concentrados especialmente na Península Balcânica, com destaque para dois países onde são maioria da população: na Albânia e na Bósnia, sem contar o caso especial de Kosovo. Nas vizinhas Macedônia, Bulgária e Sérvia, os indivíduos que professam o islamismo são minorias mais ou menos significativas.
A presença desses muçulmanos na porção sudeste do continente europeu está ligada historicamente à expansão e domínio do Império Otomano que se estendeu do século XIV até o início do século XX. O mais emblemático e complexo exemplo dos países que fazem parte desse grupo é a Bósnia.

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